Elevador: o templo do Weatherchannel

Chegou o verão, e com ele o alívio de gente que pega muito elevador com pessoas desconhecidas. Sim, porque o clima é o tema favorito das pessoas em situações desconfortáveis.

Você entra no elevador, se acomoda no cantinho ou finge olhar algo no celular ou no espelho para se mostrar ocupado, mas não tem jeito: o mala sempre quebra aquele momento lindo sem manifestações verbais:

- Mas tá calor hoje né?

E agora meu filho, fudeu. Tá obrigado e desenvolver um diálogo medíocre de poucos segundos...

- Pois é, mas em Curitiba, nunca se sabe o que esperar não é mesmo?

Aí o idiota sorri, concorda e chega o andar dele.

Eu pessoalmente, já tentei desenvolver outros diálogos encima, ou só sorrir. Nào sei o que é pior. Se você sorri ele te pergunta outra coisa e você se digna a responder, e qdo está desenvolvendo sua teoria sobre o assunto, pra mostrar que é letrado, chega o andar e você fica com cara de bobo. Se fala de outra coisa, corre o terrível risco da pessoa não saber do que você estar falando e vc tentar explicar e, mais uma vez, o elevador chegar ao seu destino muito antes de você ter chegado na metade da história.. Ou seja: não tem escapatória!

Hoje mesmo fui vítima de um vizinho. O meu prédio, em quisito de conversas de elevador é campeão. 95% dos moradores estão lá há, pelo menos 10 anos. A gente se encontra em shopping, restaurante, balada e dá aquele oi discreto, que a gente dá praquela pessoa que você não lembra o nome. É quase um código... Mas voltando ao vizinho, ele tem uma tática customizada de me abordar no elevador desde que eu tenho 12 anos de idade e a resposta é sempre a mesma:

- Já casou?

E, dependendo da resposta tem outra pergunta.

Então eu sorrio. Se disser que não e não tenho pressa, ele responde que a minha irmà vai casar antes de mim e eu vou ficar pra titia. Se eu disser que vai demorar, ele diz que quer ser convidado. De qualquer maneira, a resposta é sempre simpática e cordial.

Mas hoje ele me pegou em um mau dia. Não gosto de conversar pela manhã, ainda mais quando estou atrasada. E era exatamente essa a situação. O elevador parou no meu andar e lá estava o nosso vizinho pimpão e sua mulher tanajura...

- Bom dia.

- Bom dia.

- E então, já casou?

Sorri de um lado da boca apenas e disparei:

- Já, aproveitamos aquele casamento comunitário do Museu do Olho e juntamos os trapinhos. Ele está morando aqui no meu quarto...

E, finalmente, eu SORRI.

Estranho, o vizinho não falou mais nada do quarto andar ao térreo....

Taquipa essa multidão de gente que se incomoda com a beleza e opulência de um silênciozinho no elevador, viu?!