Carta para Deus

Até quando funcionaremos como clientes do oportunismo político, que acena com marketing nazista para perigos escatológicos, espalha ameaças de holocaustos a incautos com o objetivo de estimular as fobias históricas: o medo de perder a saúde, a segurança, o habitat, a fama..., o medo de perder a bolsa-escola, o leite da crianças, a luz fraterna e o cargo de aspone?Confesso, Deus, não votei nos derrotados, votei contra osconspiradores que venceram, os alquimistas que transformam opovo cobaia em massa de manobra, instrumentalizam osinstitutos de pesquisa e os meios de comunicação..., voteinos deuses vitoriosos da democracia, mas ungidos pelademagogia, capazes de alterar situações e por antecipaçãoganhar o jogo pela estratégia marqueteira da astúcia, osofisma turvo do engodo.Não votei nos escolhidos por ato falho, pelo indigitado errodo malogro que confirma a castração histórica..., não voteino aparelho estabelecido, no bem tutelado, que alteraqualquer tentativa dialética que vise a reformulaçãoprofunda dos rumos da sociedade brasileira.Então, Deus?, não achas que o sistema coator, osprepotentes, os mentirosos, os canalhas, os marajás, osfilhos das luzes são mais espertos, roubam daqueles quegeraram com sangue e suor para devolvê-los sem juros ecorreção parte da migalha devida em troca do voto?Confesso ao Todo Poderoso minha frustração com a esperançahistórico-dialética, com a ordem fóssil estabelecida queserve ao grupo hegemônico, esteada em vigamentos rígidos daestratificação que não se supera, nem se deixa ouvir a vozda profecia. Essa ordem é defendida, ferozmente, porqueresguarda o poder e os negócios ególatras dos bem situados.Entrego meu cargo aspone de profeta, vou parar de anunciaruma nova ordem, um novo mundo, onde o lobo coabitará com asovelhas, o leopardo com as cabritas. Os usufrutuários davelha ordem, entricheirados nas hostes dos podres poderes,acusam a nova ordem de ser o advento da desordem.Penduro a chuteira, as luvas e a joelheira, vou embora pelaestrada só, pela noite escura de São João da Cruz, a partirde agora deixo de ser profeta da esperança de todos e paratodos os pobres, indiscriminados, desempregados, exilados,marginalizados, neo-escravizados, tiranizados peladependência. Deixo de clamar pela irrupção de um novo Brasilliberto das seculares senzalas que sobrevivem às migalhasentre alhos chochos e bugalhos, do resto do restolho, onde oestalo dos chicotes se mistura ao infame soluço dosalienados contentes às lágrimas pela vinda do Papai Noel...,de saco cheio com tanta fome, decidiu presentear-lhe com a[miserável] bolsa-família.Mesmo em desespero, vou parar de reclamar por falta deesperança pessoal, nacional, continental, ecumênica,planetária..., até acho tolerável que alguns se apascentemna esperança íntima e individualista dos curraispolitiqueiros, mesmo que outros milhões sejam destroçadospelo desespero de fome zero de inclusão justa no boloincomível da noiva exclusiva que ainda não se prostituiu aonoivo no leito nupcial.Cordiais saudações, e muito obrigado pela atenção, Senhor Deus.

(*) José Aparecido Fiori, jornalista, Curitiba.

http://www.gazetadenovo.com/index.php?page=news.php&view=11622513086471

Nenhum comentário: